Acesso a partir de:

- Manteigas (± 15,5 km) - N338. Na subida, junto a umas alminhas corte à esquerda nas indicações para “Poço do Inferno/ Serra de Baixo” e “Chão de Celorico / Chão das Almas”.

- Covilhã (± 20 km) – N339 e N338. Na descida, junto a umas alminhas corte à direita nas indicações para “Poço do Inferno / Serra de Baixo” e “Chão de Celorico / Chão das Almas”.

GPS: 40.343611, -7.555000

A área da Lagoa Seca é um dos locais mais interessantes da serra da Estrela, do ponto de vista geomorfológico, sendo muito importante para o estudo da dinâmica glaciária do vale do Zêzere. Estamos numa ampla portela de declive suave, que faz o contacto entre o sector montante do vale do Zêzere (a oeste) e a cabeceira da ribeira de Beijames (a leste). Para sudoeste vê-se o planalto da Torre, bem individualizado por uma vertente abrupta. A oeste, do outro lado do profundo vale do Zêzere, fica o vale da Candeeira e, para noroeste, as Penhas Douradas. A sul, o Alto da Pedrice e, a norte, o pequeno planalto do Curral da Nave.

A Lagoa Seca fica no limite entre a área glaciada e a não glaciada. No sector mais ocidental desta portela encontra-se uma grande acumulação de blocos, alguns bastante grandes. Este aglomerado dispõe-se linearmente, de forma um pouco arqueada, numa direção SSW-NNE, acompanhando o vale do Zêzere. Visto do ar, percebe-se que se trata de vários arcos de blocos, dispostos de forma quase paralela entre si. Estas acumulações são moreias laterais, depositadas pelo glaciar do Zêzere, numa fase próxima do máximo glaciar e testemunham um enchimento de mais de 300 m de gelo, preenchendo o sector montante do vale do Zêzere. O arco morénico mais externo é de uma fase glaciária antiga, muito anterior ao último máximo glaciário da Estrela. Na Lagoa Seca chegou mesmo a verificar-se uma passagem do gelo da bacia do Zêzere para a do vale de Beijames, que terá decorrido durante pouco tempo, pois a oriente da portela não se encontram grandes acumulações de moreias, apenas alguns blocos e depósitos pouco espessos de till.

É fácil imaginar toda esta área sem vegetação, com uma grande calote de gelo ocupando as zonas planálticas a ocidente e uma grande língua glaciária descendo o vale do Zêzere, causada pelo gelo vindo do vale da Candeeira.

Após a fusão do gelo desse sector ficaram os grandes arcos morénicos que se observam. Entre estes existem sectores mal drenados que foram ocupados por pequenas lagoas, hoje sem água e preenchidas por sedimentos mais finos e matéria orgânica, dai o nome deste local: Lagoa Seca.

Glaciar – acumulação de gelo permanente existente nos polos e nas altas montanhas e que se canaliza em vales, originando línguas glaciárias.

Moreia – acumulação de rochas transportadas e depositadas pelos gelos dos glaciares. Moreia lateral tem origem na parte lateral da língua glaciária. Moreia frontal quando se origina na parte da frente do glaciar.

Till – depósito sedimentar não estratificado formado por elementos de diversos tamanhos transportados e depositados por um glaciar.

(Adaptado de “Guia Geológico e Geomorfológico do Parque Natural da Serra da Estrela – locais de interesse geológico e geomorfológico”, ed. ICN e IGM, 1999)